Com ensino de programação gratuito, jovens ‘da quebrada’ conseguem oportunidades para ingressar no mercado de trabalho tech
Negócio de impacto social tem quebrado barreiras para moradores de periferia que se interessam pelo setor tecnológico.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a ONG TETO, quase metade, isto é, 45% dos trabalhadores moradores de comunidade estão sem emprego no período pós-pandemia.
Além disso, os mesmos dados afirmaram que 58% das famílias que vivem em favelas da maioria dos estados do país, deixaram de adquirir alimentos comuns do cotidiano em decorrência da falta de orçamento.
Em paralelo, o setor tecnológico brasileiro ganha cada vez mais mais força, oferecendo um mercado com flexibilidade, ótimas remunerações e valorização da mão-de-obra e por consequência, resgatando a esperança de jovens e adultos de periferia que ainda sonham em mudar de vida.
Esse é o caso de Douglas Jesus, de 33 anos, que é morador do bairro Pimentas, periferia de Guarulhos, em São Paulo. Filho de família simples, foi criado com esforço e sem acesso a recursos para investir em estudos e principalmente na tecnologia, sua grande paixão.
O mundo da inovação sempre chamou brilhou os olhos do rapaz devido a influência de seu tio, programador há mais de 20 anos. Por isso, Douglas decidiu aprender informática sozinho, mesmo sem ter acesso a cursos profissionalizantes ou equipamentos de informática de qualidade.
“Desde muito novo sou apaixonado por tecnologia, por isso, mesmo sem ter recursos, comecei a pesquisar sobre a área. Conversava com o meu tio, prestava atenção no que os amigos que já eram da área me ensinavam e fui aprendendo, até que montei o meu primeiro computador sozinho com 19 anos só com o pouco conhecimento teórico que eu tinha na época”, conta.
Apesar de sua vontade, a vida o levou a outra profissão. Pai aos 21 anos, Douglas precisou colocar o sonho de viver da tecnologia de lado: conseguiu um emprego como fiscal de prevenção de perdas e passou a tirar dessa profissão o sustento da família.
Porém, o jovem nunca esqueceu a vontade de se tornar um programador profissional, até que o que parecia ser um sonho distante, tornou-se palpável ao conhecer a MAIS1CODE, projeto que proporciona educação tecnológica de qualidade e acesso a trilhas formativas para o desenvolvimento social e econômico de jovens periféricos de forma gratuita e 100% online.
Neste caso, a iniciativa tornou-se possível graças a um investimento no projeto realizado pela Lina Infratech, empresa de Soluções Open Finance que auxiliou na formação de diversos jovens, incluindo Douglas.
“Conheci a MAIS1CODE através de um primo que também é desenvolvedor e ele me mandou o link de inscrição de uma parceria com a instituição. Não hesitei em tentar uma vaga, era a oportunidade que faltava para mudar de vida e entrar nesse mercado de trabalho”, explica Douglas.
A ideia é capitaneada pelos amigos Tauan Matos, especialista em desenvolvimento de franquias de alto padrão e Diogo Bezerra, formado em marketing e fundador da escola de inglês 4WAY.
Diogo explica que a ideia de fundar a edtech surgiu em 2019, quando um jovem, morador de comunidade e interessado em aprender programação — assim como Douglas —, perguntou onde poderia encontrar uma iniciativa que ensinasse programação de forma gratuita na quebrada dele. Foi então que convidou Tauan e, juntos, construíram a escola de formação, que foi implementada em 2020.
Hoje, o projeto se beneficia de parcerias com outras instituições como a Lina Infratech, por exemplo, o que resultou na formação de mais de mil e setecentos jovens e impactou diretamente em mais de seis mil famílias de periferias em todo o Brasil.
Douglas conta que o curso foi um divisor de águas em sua perspectiva como programador, segundo ele, um dos momentos mais marcantes durante a formação foi quando um dos mentores da MAIS1CODE ensinou durante uma aula o método CRUD (da sigla em inglês “Create, Read, Update and Delete”), quatro operações básicas para operar informações armazenadas.
“Quando eu percebi que consegui parar e realizar esse método, foi o momento em que eu tive um ‘estalo’. A minha mente expandiu e eu comecei a entender que o mundo da tecnologia é algo quase sem limites e que eu era capaz de chegar a lugares que eu não tinha imaginado até o momento. E eu devo a MAIS1CODE por isso”, confessa o desenvolvedor.
Atualmente, após a conclusão do curso, Douglas é estagiário na mesma empresa de tecnologia que investiu no desenvolvimento do projeto e proporcionou sua formação, a Lina Infratech. A oportunidade oferecida pela startup o ajuda a ter experiências profissionais na área e fazer contato com outros programadores, o que, de acordo com ele, tem somado muito em sua vida.
“Hoje, vejo claramente o caminho para possibilitar à minha família e, em especial às minhas filhas, uma vida sem tantas dificuldades assim como eu tive na infância. Agora sei que posso oferecer um estudo de qualidade a elas, algo que para quem é de quebrada, parece uma realidade distante. São iniciativas como a MAIS1CODE que vão abrir as portas do mundo tech para a periferia, que muitas vezes acredita que a tecnologia se baseia em adquirir uma televisão ou um celular novo, mas este, é um mundo em constante expansão com infinitas possibilidades”, conclui.
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